26 de julho de 2018 in Ebooks, Rádio AM e FM, Televisão

[EBOOK] Guia de linguagem para jornalistas: Como evitar gafes na comunicação?

A arte de se comunicar com os outros nem sempre é tão fácil quanto parece. Esse desafio é ainda maior quando trabalhamos em veículos de comunicação, como jornais e revistas. Os jornalistas, por exemplo, são responsáveis por manter a população informada sobre o que acontece no Brasil e no mundo. Por esse motivo, precisam se comunicar de forma clara com centenas de pessoas.

Apesar de serem familiarizados com a área, esses profissionais também podem cometer falhas no momento de falar com os telespectadores. Isso porque, ao longo dos anos, criamos o hábito de usar termos e expressões que, dentro da semântica, podem ser ofensivos.

Muitas palavras usadas em nosso dia a dia podem ser extremamente preconceituosas, ainda que não tenhamos noção disso. Especialmente na rotina da profissão, um jornalista precisa ficar atento para não cometer gafes e não perder a credibilidade junto aos seus espectadores.

Para ajudar você nessa tarefa, criamos este guia para que você consiga identificar alguns termos que não devem ser utilizados na linguagem jornalística. Ao longo da leitura, você também vai encontrar dicas de como criar uma comunicação mais humanizada com seu público, que é essencial para os profissionais da área.

Vamos lá?

2. Por que pensar na linguagem humanizada de comunicação?

Para que o processo de comunicação seja efetivo e agradável, é importante que o jornalista fique atento ao seu tom de voz — aqui não estamos falando somente da comunicação oral, mas da escrita também. Há algumas palavras, que se forem ditas em um contexto inadequado, podem ofender os telespectadores.

Termos de cunho machista, racista, homofóbico ou que mostrem preconceito em relação a determinados assuntos, devem ser evitados no meio jornalístico. Além disso, quando forem abordados assuntos delicados, as palavras devem ser expressadas com cuidado redobrado, para que não soem preconceituosas.

Quando falamos em uma linguagem humanizada, estamos nos referindo a algumas expressões que devem ser evitadas ou até mesmo banidas do seu vocabulário. Assim, você evita constrangimento e ainda mantém a boa imagem do veículo de comunicação para o qual você trabalha.

Assuntos referentes ao aborto, por exemplo, quando não são bem retratados, podem soar agressivos e preconceituosos.

Embora o aborto seja legalizado no país para casos específicos, como estupro, quando o assunto não é levado com cuidado, a mulher que optou por não continuar com a gestação pode sofrer uma exposição desnecessária. Nesses momentos, vale usar o bom senso e a empatia para usar as palavras certas, de forma a não criar uma imagem negativa da pessoa.

comunicação humanizada informa, mas também respeita todos os envolvidos em uma situação. Dessa forma, quem se identifica com o que é mostrado não entende a mensagem como uma ofensa às suas origens ou como um preconceito sobre suas escolhas.

2.1 O que levar em consideração para ter uma comunicação humanizada?

Para que uma comunicação seja considerada humana, ela deve levar em conta fatores relacionados com a sociedade, que normalmente, estão ligados às minorias. Termos que diminuem, rejeitam, estereotipam ou até mesmo causem discriminação não devem ser usados em veículos de comunicação.

Isso porque, dependendo do contexto a qual está inserida, uma palavra ou expressão pode ter seu significado afetado. Ainda não entendeu? Então, vamos seguir com um exemplo simples.

Suponha que você está escrevendo uma matéria sobre cotas para negros em universidades públicas. Esse é um tema bastante controverso e, por isso, deve ser tratado com cuidado, afinal, dependendo do tom usado na mensagem, o assunto pode parecer apelativo, mesmo que essa não seja a intenção.

Imagine que a reportagem aborda a questão de as notas de corte destinadas às cotas para negros serem menores. Nesse caso, se o veículo de comunicação afirmar que as cotas são necessárias, presumindo que os negros não têm condições de competir por uma vaga em uma universidade pública sem esse benefício, cometerá um erro terrível.

Ao fazer essa afirmação, o profissional está criando um estereótipo — de que a cor da pele de uma pessoa influencia em sua capacidade intelectual — mesmo não tendo esse objetivo.

2.2 Como funciona a comunicação humanizada na prática?

Ainda tem dúvidas sobre alguns termos que podem ser considerados ofensivos para algumas pessoas? Bom, isso é normal, pois, até pouco tempo, algumas expressões que hoje são consideradas preconceituosas eram usadas em peso no meio jornalístico.

O termo pessoas com necessidades especiais, por exemplo, foi muito difundido pelos meios de comunicação para se referir a indivíduos com limitações físicas. Hoje, essa definição não é mais aceita por ser considerada ofensiva. Sempre que precisar falar ou escrever sobre o assunto, use pessoas com deficiência.

A seguir, listamos outros termos que podem ser considerados ofensivos. Para que você entenda melhor, separamos por categorias. Acompanhe!

2.2.1 Raça ou etnia

A palavra mulata é muito usada nos veículos de comunicação, principalmente para se referir às mulheres negras no carnaval. Embora comum, esse termo é pejorativo — tanto a palavra mulato quanto mulata foram usadas para depreciar os filhos das escravas negras com seus senhores brancos.

Outra palavra bastante comum, que foi bastante usada por jornalistas é o termo denegrir. Segundo o nosso dicionário, essa palavra significa “tornar mais escuro; ficar mais negro”. Dessa forma, quando usada, associa o negro a algo negativo. Da mesma forma, a expressão “inveja branca” é frequentemente associada a algo positivo.

Por causa do sentido que essas expressões causam, principalmente, dependendo do contexto que são empregadas, essas palavras devem ser excluídas do vocabulário de um bom jornalista. Outros temos como “criolo” e “de cor” não devem ser usados.

2.2.2 Religiosos

Religião é sempre um assunto muito delicado. Para não cometer gafes, você deve ficar atento quando for falar sobre a fé de outras pessoas. Usar o termo crente de forma pejorativa não é nada ético e pode manchar a reputação da empresa e o seu nome como profissional.

Fazer piadas com a fé de outras pessoas, tratar com descaso algumas crenças, ou se referir a alguma religião de forma preconceituosa, também não são boas práticas do jornalismo.

Por exemplo: todos sabem que grupos extremistas islâmicos são responsáveis por diversos atentados ao redor do mundo. Mas, nem por isso, as pessoas adeptas a essa religião devem ser retratadas nos meios de comunicação como terroristas em potencial, não acha?

2.2.3 Deficiência física

Como já citamos no início do capítulo, o termo pessoas com necessidades especiais foi usado por bastante tempo. Também é comum ouvirmos os veículos de comunicação tratarem pessoas com deficiência como deficientes.

A palavra deficiente não é adequada, pois passa a mensagem de que pessoas nessas condições são incapazes. Atualmente, o termo mais adequado é pessoa com deficiência, pois soa mais inclusivo.

As palavras aleijado, portador de necessidades especiais e deficiente físico também não devem ser usadas.

2.2.4 Orientação sexual

Esse é outro assunto bastante delicado, que, quando as palavras não são ditas ou escritas com cuidado, podem soar ofensivas para quem ouve ou lê a mensagem. Expressões como veado, bicha e sapatão são termos pejorativos, que visam diminuir e debochar dos homossexuais. Obviamente, não devem ser usadas, especialmente em conteúdos jornalísticos.

Se referir à homossexualidade como homossexualismo também é uma gafe. Da mesma forma, não é correto tratar a homossexualidade como opção. Quando você for se referir a pessoas que mantêm relacionamentos com pessoas do mesmo sexo, o correto é falar sobre orientação sexual.

2.2.5 Identidade de gênero

Divulgar uma matéria disseminando estereótipos, como dizer que algo é coisa de homem ou de mulherzinha, não soa nada bem em uma linguagem jornalística humanizada. Retratar pessoas transgênero com deboche ou pelo pronome incorreto também não faz parte de um jornalista ético.

2.2.6 Atributos físicos

Na escrita jornalística, há diversas matérias divulgadas que usam atributos físicos para caracterizar uma pessoa. Isso acontece principalmente com as mulheres, o que está associado a um estereótipo de gênero. No esporte, na música e até mesmo na TV, é muito comum que as mulheres sejam tratadas como musas.

Dessa forma, seus atributos físicos são mais destacados pelos veículos de comunicação do que seu talento. Repare que quando um jornal ou revista se refere a uma atleta, a primeira característica a ser divulgada são seus atributos físicos. Muitas vezes, o nome da atleta sequer é informado na reportagem.

Nesses casos, o talento da atleta não é levado em conta, mesmo que ela tenha ganhado diversas medalhas e campeonatos. A maior parte dos jornalistas não se importa em ressaltar o talento da mulher como profissional, aliás, essa característica é deixada em segundo plano.

3. Qual a responsabilidade do emissor da mensagem?

A responsabilidade dos meios de comunicação é garantir o maior acesso à informação. No entanto, se as palavras forem mal utilizadas no meio jornalístico, podem ser interpretadas como discurso de ódio e gerar sérias consequências.

Uma opinião mais radical sobre determinado assunto, partindo de um veículo de comunicação ou de um jornalista renomado, pode resultar em violência. Isso porque a influência de empresas de comunicação na sociedade é muito grande. Uma simples novela ou programa de televisão que dissemina preconceitos e retrata posturas inadequadas como “normais”, pode gerar danos na sociedade em geral.

Os veículos de comunicação têm compromisso em divulgar a verdade, sem ferir ou magoar as pessoas que receberão a mensagem. Além disso, é importante cuidar para que a mensagem seja entendida pelos receptores. Mensagens subliminares ou de duplo sentido em propagandas, por exemplo, podem prejudicar a imagem da marca.

Você se lembra da propaganda da Camisinha Prudence? A campanha intitulada “Dieta do Sexo” banalizava a violência contra a mulher ao sugerir que, quando o homem tirava a roupa dela sem seu consentimento, queimava mais calorias do que quando a mulher consentia o ato.

Embora possa ter sido considerada uma brincadeira inocente, foi uma gafe terrível da marca. Afinal, em um país com índices tão altos de estupro e violência doméstica contra a mulher, brincar com o assunto foi um verdadeiro tiro no pé. Logicamente, os criadores da campanha não levaram em conta a seriedade do assunto.

Repare que esse tipo de abordagem não levou em conta os desejos e escolha da mulher, pois ela foi tratada apenas como um mero objeto de prazer masculino. É um típico exemplo de linguagem não humana utilizada nos meios de comunicação — e que pode trazer sérias consequências.

4. Como melhorar a linguagem na rádio?

Se você trabalha em uma rádio e acha difícil seguir as boas práticas, saiba que elas são essenciais para uma boa comunicação com seu público. A seguir, conheça algumas dicas para ter uma comunicação mais humana com seu espectador.

4.1 Use uma linguagem prática e envolvente

Para evitar gafes, você deve usar uma linguagem simples, prática e envolvente. Estudo sobre a notíciaantes da transmissão, pois isso ajudará você a falar com propriedade e a prender a atenção do ouvinte.

4.2 Evite vícios de linguagem

Alguns vícios de linguagem, como redundância por meio de repetições de termos e frases de duplo sentido, empobrecem sua comunicação. Então, evite esses erros, tornando suas mensagens claras ao ouvinte.

4.3 Não utilize estereótipos

Você já sabe, mas não custa nada reforçar. Como citamos, é comum que as mulheres sejam estereotipadas nos meios de comunicação. Comentários sobre o peso, cabelo e sobre o corpo são constantemente divulgados na mídia. Muitas vezes, uma mulher que faz sucesso como atleta, por exemplo, é vista apenas como objeto decorativo.

Em uma linguagem jornalística humanizada é essencial que os jornalistas enxerguem as mulheres como seres humanos e as tratem como profissionais de talento — e não como musas.

4.4 Entenda o significado de racismo

As pessoas pensam que racismo se refere somente às ofensas destinadas a pessoas negras. No entanto, alguns preconceitos comuns, como achar que uma mulher negra tem a obrigação de saber sambar, são exemplos clássicos de racismo praticado todos os dias nos meios de comunicação.

Para entender melhor o significado de racismo, pesquise informações sobre as diferenças sociais entre brancos e negros, a disparidade de níveis de educação, a violência contra negros, entre outras informações. Nessa cartilha do Think Olga — ONG Feminista — você consegue assimilar com bastante clareza do que se trata exatamente o termo racismo.

4.5 Evite opinar sobre assuntos polêmicos

Aborto, eutanásia e pena de morte estão sempre na mídia. São questões muito delicadas que levantam opiniões diferentes. Por isso, quando você der alguma notícia na rádio em relação a esses assuntos, seja imparcial.

Evite dar sua opinião sobre o assunto, pois você pode ofender seus ouvintes. Lembre-se de que as pessoas do outro lado são humanas e podem ter vivenciado alguma dessas experiências em sua vida. Nesse cenário, uma palavra mal colocada pode gerar afetar a credibilidade de seu trabalho.

5. Conclusão

Como você viu ao longo deste e-book, apesar de alguns termos serem bastante difundidos nos veículos de comunicação, eles são bastante ofensivos e podem ser interpretados de maneira errônea. Além disso, dependendo de como são abordados, podem gerar sentimentos de ódio nos leitores, ouvintes ou telespectadores.

Para evitar problemas e agir com ética, o melhor a fazer é evitar esses termos e adotar uma comunicação mais humanizada. Assim, você melhora a qualidade do seu trabalho e conquista a confiança do seu público. Esperamos que a leitura deste e-book seja de grande ajuda para o seu trabalho. Até a próxima!

  • < class="pp-author-boxes-name multiple-authors-name">